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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A PARTIDA ....



A PARTIDA ...


Quando chegámos ao cimo do Madanelo, já a caminho da Guarda, pude ver, num derradeiro olhar, a aldeia com as casas de granito, semeadas entre as verduras dos castanheiros e dos pinheiros do vale. Estas casas de xisto e de gr...anito, – anagalhadas no vale entre os carvalhos velhos – enrugadas como os homens, são, na história escrita em cada uma das pedras, testemunhas silenciosas d...as penas daquelas gentes. Impassíveis, sofrem as inclemências do sol a queimar no estio e os frios dos ventos depois dos nevões nos prolongados Invernos. Assemelham-se algumas das gentes, que por ali se foram quedando e resistindo, aos penedos frios e velhos que também não têm sonho nem lamento. Passaram anos a ser mandados, viram nascer e morrer animais, árvores e homens. Naquele beco do mundo, onde a rotina há muito ganhou musgo, olhavam os que chegavam e os que partiam.
Senti um baque no peito e tive a real certeza de que a coisa era comigo, muito mais do que alguma vez pensara. Aqueles meses de preparação pareceram-me até divertidos. Os dias decorriam e eu era o centro das atenções. Muito tempo haveria agora de correr até que um dia eu ali pudesse voltar. Só Deus sabia se alguma vez ou nunca mais.
Mas a quantos isto aconteceu num tempo a que a memória há muito perdeu o rasto?
Quantos tiveram de partir em busca de terras distantes onde lhes fosse assegurado o futuro?
Não fui o primeiro nem o último. Só Deus sabe quantos, um dia, sentirão como eu a amargura da partida.
Durante mais de uma hora de viagem ninguém disse palavra. O nosso Tó conduzia as vacas e o carro em silêncio. Vigiavam os caminhos, os enormes pedregulhos que foram arredondados pelos séculos. Nem os eixos soavam. Contornámos a cidade e fomos directos para a estação.

in - O CAÇADOR DE BRUMAS
I Parte - Por esta vida acima