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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Navego...



Navego...

Navego com os meus pensamentos, no meu tempo
como se de um barco se tratasse
com os meus pensamentos, subia lentamente o rio
... Não levava companhia, só pensamentos
nem mastreação tinha,
Acordo, estou ancorado em mim
Olho o que me rodeia, olho tudo
através de grandes janelas exorbitadas na margem
onde cintilam as luzes, que mais se assemelham
a paisagens lunares
o silêncio que me rodeia é assustador
é negro o seu perfil.
Mas que quero mais estou firmemente ancorado
nos meus pensamentos.
Livre dos coites que me rodeiam.

domingo, 24 de junho de 2012

Quero vaguear...



Quero vaguear...

Quando escrevo poesia, é como que vaguear
por tudo o que nos rodeia,

... Os caminhos por vezez são pequenos trilhos,
desencontrados com o relógio da minha igreja,
quando escrevo, torno-me um mar manso,
fico calmo, como o luar, que entra
no meu jardim nocturno,

ou num grande deserto, que não me atrevo a atravessar,
a miragem está perto de mim, fica perto do oásis da vida,
mas tenho o corpo cansado, sem forças para o alcançar.

Que não me digam para o atravessar
chegará um dia, a hora de retomar, o que deixei por acabar,
o rumo do que pretendo atingir, surgirá.
estou tranquilo,
a tempestade porque passo, não abala os meus sonhos de criança,
nem o meu palácio de ilusões,
a doçura que me invade, não pode ser regateada,
não nasci com a pena a crepitar.

Em toda a minha vida, nunca soube usar,
os sinais da bussola, mas é belo ver os ponteiros,
que se atraiem a caminho do norte.
Não me peçam nada. Nada.
Deixai-me com este meu dia, que nem sempre é dia,
com o anoitecer das ideias, que nem sempre se dão com a noite
Deixai-me só como a minha pena, escrever sem papel.

Sei qual é o meu caminho, sei que não o quero enfrentar.

Tu...



Tu...

ter-te suspensa no ardor
do ardor que brota
como fogo na minha boca,
... o ardor, a ansia,
prestes a explodir
tu
intacta nos meus pensamentos
nos meus sonhos,
és uma nuvem
com uma voz suave, clara,
soltas o teu apelo...
igual aos das aves que nos sobrevoam
quase em pânico,
na luz doce doce do teu olhar.

Faltam ideias...

Faltam ideias...

As ideias navegam no tempo
lentamente, como uma barcaça sob o rio
Sem marinheiros, sem mastros, só comigo como marinheiro.
... As ideias querem querem que as janelas
se abram no espaço, enormes
exorbitadas e com luz
onde a luz provoca as sombras de estranhas paisagens
o silêncio têm quase sempre um perfil negro.
É urgente parar a barcaça
Enquanto as ideias não voltam
A entrar pelas janelas que deixei abertas.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Amor...


O Amor?

O amor é aquele que nos condena:
que nos faz desesperar, com a sua longa espera
que nos faz desesperar, mesmo quando vêm antes do tempo.
...
Mas a verdade é que não é na espera do tempo
que eu aguardo por ti.

Já aguardava por ti, mesmo quando não sabia,
quando ainda nem vida tinha
e hoje és tu que abres a janela, por onde entram os dias.

Chegas tardio, mas chegas
só que eu, já não me sinto
sou uma saudade de mim prório
já não seguro as rosas do meu jardim!
caiem-me das mão, como se de um fardo se tratasse
ao cairem as petalas das mãos,
enchem de cor o chão que pisas.

Perdi a noção do lugar
em que ansiosamente te aguardei,
sempre com o sabor da água que brotou da tua boca
que com frescura sacia a sede do desejo.

Envelheci,
já não tenho palavras doces
Sabias que a palavra também envelhece?

Só me resta olhar a lua
e nela desenhar todo o meu ser
desejo que a lua tenha o formato da minha boca
e que no doce cair da noite, perco a voz
na medida em que me despeço de ti.

A túnica que te cobre,
escorrega pelo teu corpo sensual
como se fosse uma núvem construida nos meus sonhos.
O teu corpo doce, deita-se sobre o meu,
e deslizamos na imensidão da noite
este doce deslizar, torna-se um rio

na busca de se tornar um mar de imenso amor.

domingo, 17 de junho de 2012

É estranho...


É estranho....

Todo eu estou lânguido, á borda do meu pensamento
todo o meu corpo se encontra estiraçado ao pé do teu.

... O cigarro que rola impaciente nos meus dedos
liberta um fumo azulado.

O rádio... toca uma música suave...

A tua imagem esvoaça
em torno desse fumo, da brisa e da música...

Vou-me ausentado de tudo e de todos! é a minha doce fuga!

É estranho o que escrevo em pensamento
Como é estranha a poesia,
que durante horas, contorna a mágoa que vai em mim
as lágrimas correm suavemente, como o orvalho nas flores
mais parecem lágrimas, escorrendo sobre
os vidros duma janela de ilusões,

numa tarde suave, vaga...
que me envolve o pensamento

quinta-feira, 14 de junho de 2012



Se partir, voltarei....

Na minha velha casa onde dormia
está o meu berço
cheio de poeira húmida
das secas arvores que atraiem orvalhos
... tenho esta lembrança
de sonhos não cumpridos
No meu estreito regaço cheio de penas
a brisa com asas
sobrevoam a minha velha casa
donde não sei se alguma vez parti, ou se voltarei
asas a acenar
coloco o velho mastro de largada
e as velas ao sabor da brisa
faz-me sonhar acordado
tu serás sempre o meu destino
escuso de fugir ou de ficar
sem nunca haver partido.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Timido...



Timido...

Timido, sempre me achei
e timido é como tu me sentes
quando
... timido me julgas em pensamento,
Eu, timido me reconheço
quando
o silêncio entre nós se acentua
as nossas vozes tornam-se turvas.
Dúbio é o nosso desejo
quando
o mesmo não é transparente
a cama em que nos deitamos
timidamente.
Timidos somos
quando
a nossa timidez
esconde a face quando nos acariciamos.
Os nossos olhos tornam-se doces
quando
o horizonte está limpido como um espelho
é suave a nossa timidez.


Alberto David
Pinturas e Poemas II

terça-feira, 5 de junho de 2012

É leve...

É leve...

Leve é agua da ribeira
mesmo quando o inverno é frio.
Leve é o voo
dos pássaros que cantam ao amanhecer.
Leve se torna o meu sono
que me faz adormecer.
Enquanto as vagas levemente abordam o cais
leve é o balouçar da bruma que nos cobre
leve é a luz das estrelas que nos iluminam
enquanto fazemos amor
leve, muito de leve o peixe come o isco.
E a margem do cais, torna-se Ténue
aos olhos de quem nos espreita.
Mas uma coisa é certa, o amor que nos cansa e dilui
têm o condão de nos fazer felizes por dentro.

Alberto David

segunda-feira, 4 de junho de 2012




É urgente....

É urgente, é preciso partir!
o padeiro já não não fia,
a seca tornou a terra estéril,
... o frigorifico está vazio,
o gado está só com o esqueleto, minga e se fina!

È urgente partir!
A enxada enferruja com falta de uso,
o arado já não sulca a terra,
o nosso filho quer pão; a nossa casa é fria!
Não ouves as noticias!

É preciso emigrar!
O vento está doido sopra forte e sem nexo – vai levar a azeitona;
a chuva não deixa de cair
de noite e de dia vai inundar tudo;
e a lareira já não acende, o sitio da lenha está vazio,
o gado definha sem pasto,
é a morte que nos assola, só à frio por todo o lado,
só a morte, nos aguarda com este frio que nos assola,

Filho!
É preciso decidir, não houves as noticias!
o sino ja toca, Badalão, Badalão!
já anuncia a tua despedida.
Os juros não param de crescer;
o homem rico é como o dinheiro, não têm coração.
E as dividas, Filho?
Ninguém as perdoa – que mais temos para vender?
Foi-se o fio da minha querida mãe,
Foi-se os brincos da Tia,
foi-se tudo Filho!

A fome já nos espia, ronda o nosso gelado lar.
Para quê lutar,
Para que lutar, com a indiferença dos homens,
com a indiferença do céu,
com tudo o que nos rodeia,
com a morte, com a fome, com a terra,
com tudo! Eles os homens roubaram-nos tudo
Árida, árida a vida!

Filho, é preciso partir, ouve as noticias!
Emigra!
O Filho convencido partiu.
E a nossa casa,, ficou mais fria, desamparada, vazia.
Mas ele disse para Partir! 


Aguardo....

Aguardo que chegues
a tua chegada,
em dia sombrio de lua que não se vislumbra.

... Espreito a noite escura
e contento-me a ver a lua a romper a escuridão...

Aguardo ansioso o momento em que chegarás
virás cansada, como cansados ficamos todos
com o cansaço de todas as chegadas...

As nuvens são de papel, mas densas
que tu aos poucos rasgarás
Rasgarás as ruas densas onde as nuvens se escondem,
Passarás por pequenas vielas, de gente já alegre
de bêbados que transforma o silêncio em grunhidos.
Passarás ribeiros, mares, e os relevos do horizonte...
- A tua alma jamais morrerá, com
os medos que as sombras espalham ao teu redor!

Mas...,
Vou deixar a janela do meu quarto aberta
para me poderes amar,
os ribeiros, o mar e os relevos da noite,
ficam lá longe, serão testemunhas
e eu,
fico sempre na duvida,
enquanto faço desenhos do teu rosto
na imensidão desta areia molhada...


Alberto David

Escravos negros.....

Subimos e descemos os montes
trouxemos o povo sempre acorrentado,
como se de rebanhos se tratassem
os cantos relegiosos surgiam nas suas bocas
... e o padre-nosso bailava nos seus lábios já gretados
Subiram montes, montanhas
e para meu espanto eram negros,
grandes e medonhos
Vinham de montes distantes e nos seus lábios gretados
mas firmes
Diziam através dos seus lábios, a verdade que não se queria ouvir
As correntes tilintavam, como se fosse música
Vinham para lá dos montes.
De Missões que ficavam para além dos montes
Vinham de muito longe
Da África? De além mat, talvez dos Brasis, vinham de longe
Só não sei porque espetaram uma cruz pintada de branco
Uma cruz esguia, espetada no alto monte
erguia-se
Vinham acorrentados, para ouvir Sermões da Igreja
a comunhão era perto do vale, era geral
a procissão ouvia-se com o bater das correntes,
que não tinham sido tiradas
estava perto, estava na rua
olhava Cristo,
que estava bem pregado na cruz
protegia a pequena aldeia
Hosana!
A mossa Terra e as gentes trazidas de outros Mundos
ficaram santos nesse dia – Hosana!
Hoje, todos se envergonham daqueles olhares parados
no cimo do monte
- caminheiros forçados que atravessaram a serra,
viajantes sem destino
ttodos erguem o olhar para o Cristo pregado
- com um olhar imóvel e indiferente
daqueles que desceram e subiram os monte. acorrentados


Alberto David
 

Onde ficava o mundo?


Onde ficava o mundo?

Só pinhais, matos, charnecas e milho
para saciar a fome dos olhos.
Para lá da serra, o verde de outra serra e outra serra ainda.
E o mar? E a cidade? E os rios?
... Caminhos de pedra, sulcados, curtos e estreitos,
onde chiam carros de bois, quando trilham as poças que a chuva deixou.
Onde fica o mundo?
Nenhum de nós ousa pensar.
Mas vieram engenheiros e máquinas estranhas.
E em cada dia o povo abraçava um outro povo.
E hoje a terra tornou-se livre e fácil como o céu das aves
a estrada ficou branca e menina, é uma serpente ondulada
e nasce a sede da fuga
como a água dos rios a caminho do mar.



Alberto David
Pinturas e Poesias II