O meu Segredo...
Meu pai andava sempre contra o vento
só agora é que me lembrei, de contar.
Tinha necessidade de lutar contra os ventos da vida
... e eu, nem sequer o imaginava
o seu olhar andava sempre por longe, fixo no horizonte
com uma expressão que levei tempo a perceber
eram olhares miraculosos, cheios de brilho
que faziam que estivesse em todos lugares ao mesmo tempo.
Nunca estava perto, andava sempre por longe, sonhando e vadiando
mas a sua ausência,
não era mais do que o malogro de quem procurava ver
só agora, o sinto e o sei.
Nem sempre andava distante, nós é que o sentiamos distante
o que na prática dá no mesmo
mas quando o espreitava vía-o sempre
ali, muito perto, sentado numa imobilidade total
no pequeno cepo da oliveira, raiado de tons esverdeados
era um velho cepo, mas ainda com miolo,
com que o caruncho se deliciava
lembra-va as lagartas quando esvaziavam a fruta por dentro
tornava-se algo estranho, assim, quieto e pensativo
como resignado ao seu estranho vadiar
os olhos sempre tristes, tristeza que ainda hoje me dói
como se quizessem gritar, com uma coragem nunca abortada.
A ausência demostrada era sómente de mágoa, nunca de fracasso
a sua presença era,
altiva, mas desolada, um pouco triste
sim uma tristeza quase solene e irremediada pelo que não alcançara
só agora sei dar o valor, só agora o sei.
Por vezes mais parecia uma águia rasgando o azul do firmamento
deixando sempre um sulco de esperança por onde passava
esse sulco de cor azul, ficava deveras marcado no firmamento
por vezes o sulco esfumava-se
enquanto o seu voo continuava, para que
o irreal se tornasse real.
Meu pai era um homem com a forte nostalgia que combatia
o que nunca acontecera, e comia-lhe as vísceras
como as lagartas comem a fruta amadurecida
e então só agora é que o sei porque é que
ele calçava as suas velhas sandálias
que eram as suas companheiras nas lutas travadas
Sandálias que o faziam percorrer o firmamento de astro em astro
eram de vento as sandálias que calçara,
levando-o aonde ninguém o poderia alcançar.
Os amigos não sabiam, e eu tão pouco sonhava
via-o sempre sentado no cepo da oliveira, velho
raiado de tons esverdeados como se de uma estrela fossilizada
se tratasse.
por isso tudo era para ele mais distante e triste
sinto-o agora tarde de mais
é uma dor de remorso, que surgiu tarde de mais
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas que estragam a fruta dos pomares.
Mas fica sempre um segredo
de que só ambos partilhamos
e que avaramente guardamos, era indecifravel
era um segredo precioso, um segredo conspirador
que fazia parte só de nós, era um segredo
como se fosse um magia inviolavel.
Meu pai andava sempre contra o vento
só agora é que me lembrei, de contar.
Tinha necessidade de lutar contra os ventos da vida
... e eu, nem sequer o imaginava
o seu olhar andava sempre por longe, fixo no horizonte
com uma expressão que levei tempo a perceber
eram olhares miraculosos, cheios de brilho
que faziam que estivesse em todos lugares ao mesmo tempo.
Nunca estava perto, andava sempre por longe, sonhando e vadiando
mas a sua ausência,
não era mais do que o malogro de quem procurava ver
só agora, o sinto e o sei.
Nem sempre andava distante, nós é que o sentiamos distante
o que na prática dá no mesmo
mas quando o espreitava vía-o sempre
ali, muito perto, sentado numa imobilidade total
no pequeno cepo da oliveira, raiado de tons esverdeados
era um velho cepo, mas ainda com miolo,
com que o caruncho se deliciava
lembra-va as lagartas quando esvaziavam a fruta por dentro
tornava-se algo estranho, assim, quieto e pensativo
como resignado ao seu estranho vadiar
os olhos sempre tristes, tristeza que ainda hoje me dói
como se quizessem gritar, com uma coragem nunca abortada.
A ausência demostrada era sómente de mágoa, nunca de fracasso
a sua presença era,
altiva, mas desolada, um pouco triste
sim uma tristeza quase solene e irremediada pelo que não alcançara
só agora sei dar o valor, só agora o sei.
Por vezes mais parecia uma águia rasgando o azul do firmamento
deixando sempre um sulco de esperança por onde passava
esse sulco de cor azul, ficava deveras marcado no firmamento
por vezes o sulco esfumava-se
enquanto o seu voo continuava, para que
o irreal se tornasse real.
Meu pai era um homem com a forte nostalgia que combatia
o que nunca acontecera, e comia-lhe as vísceras
como as lagartas comem a fruta amadurecida
e então só agora é que o sei porque é que
ele calçava as suas velhas sandálias
que eram as suas companheiras nas lutas travadas
Sandálias que o faziam percorrer o firmamento de astro em astro
eram de vento as sandálias que calçara,
levando-o aonde ninguém o poderia alcançar.
Os amigos não sabiam, e eu tão pouco sonhava
via-o sempre sentado no cepo da oliveira, velho
raiado de tons esverdeados como se de uma estrela fossilizada
se tratasse.
por isso tudo era para ele mais distante e triste
sinto-o agora tarde de mais
é uma dor de remorso, que surgiu tarde de mais
que me consome víscera a víscera
como as tais lagartas que estragam a fruta dos pomares.
Mas fica sempre um segredo
de que só ambos partilhamos
e que avaramente guardamos, era indecifravel
era um segredo precioso, um segredo conspirador
que fazia parte só de nós, era um segredo
como se fosse um magia inviolavel.
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